A superespecial urbana da Figueira da Foz, primeira classificativa da edição de 2025 do Rali de Portugal, dividiu opiniões entre os pilotos, desde quem a cumpriu pelo gosto de dar espetáculo aos que esperam pelos pisos de terra.
À saída do parque fechado, frente à Câmara da Figueira da Foz, o campeão do mundo em título, o belga Thierry Neuville (Hyundai i20) antecipou dificuldades para sexta-feira.
“Hoje não foi mau, mas amanhã [sexta-feira] será um dia longo e duro. Haverá um pouco de humidade nos troços, esperamos condições escorregadias”, observou Neuville.
Já o recordista de vitórias no Rali de Portugal, Sébastien Ogier (Toyota Yaris), voltou a demonstrar, no final da classificativa, a simpatia que o caracteriza, posando para várias ‘selfies’ com espetadores, enquanto esperava a sua vez de entrar nas áreas técnicas, prévias ao parque fechado.
“Correu tudo bem. É um troço só para a diversão”, disse à Lusa o piloto francês, que, em 2024 bateu o recorde de vitórias de Markku Alen, estabelecendo seis triunfos na prova portuguesa.
Para sexta-feira, Ogier prometeu andar ao ataque: “Temos de tentar atacar sempre”, notou.
O líder do campeonato, o britânico Elfyn Evans (Toyota Yaris), que leva já dois triunfos nesta temporada (Suécia e Quénia), foi o mais rápido nos 2,94 km da superespecial da Figueira da Foz, desenhada na zona ribeirinha da cidade, com piso integralmente em asfalto, mas, no final, mostrou-se pouco entusiasmado e reservado para com os fãs.
Também o estónio Ott Tanak (Hyundai i20) foi de poucas falas, apenas deixando escapar um “está tudo bem”, contrariamente ao finlandês Kalle Rovanpera que deu espetáculo ainda antes de entrar no troço cronometrado, usando as quatro faixas da avenida ribeirinha para testar os travões do Toyota Yaris.
“Diverti-me imenso”, afirmou, com um sorriso, prometendo, a exemplo de Ogier, um dia de sexta-feira ao ataque.
Do lado dos Ford Puma Rally1, o irlandês Joshua McErlean mostrou-se algo apreensivo face à duração da etapa de sexta-feira – 10 classificativas, num total de 146,5 km, disputadas em estradas florestais da região Centro, enquanto o seu companheiro de equipa, o luxemburguês Grégoire Munster não gostou da superespecial de hoje.
“Está tudo bem com o carro, mas não gostei, é asfalto a mais. Mas amanhã vai ser sempre a atacar, sempre”, enfatizou.
Já o português Diogo Salvi, que se estreia num Ford Puma Rally1, inscrito pela equipa oficial, vincou, no final da classificativa, que o carro “é espetacular”.
“Só foi uma porcaria ainda não conseguir fazer piões”, brincou.
Os pilotos, um a um, iam chegando ao final do troço inaugural e manifestavam alguma preocupação com os pneus (de piso de terra), mas as suas expectativas estão guardadas para a primeira classificativa ‘a sério’, a primeira passagem pelos 14,59 km de Mortágua, a partir das 07:35 de sexta-feira.
O sueco Olivier Solberg (Skoda Fábia WRC2), conhecido pelo seu andamento espetacular, disse esperar que o piso esteja seco: “Será melhor se estiver seco, os pneus não são tão bons em piso molhado”, frisou.
A superespecial da Figueira da Foz voltou a concentrar as atenções de milhares de espetadores, de todas as idades, desde ‘habitués’ dos ralis, até outros, mais desligados desta disciplina do desporto motorizado.
“É a primeira vez que venho a um evento do WRC. Tenho expectativas altas” disse Rúben Correia, que foi de propósito à Figueira da Foz equipado a rigor com artigos alusivos ao rali.
Adepto de Kalle Rovanpera, acompanhado pela mulher e uma menina, antecipava estar ali, a dormir no carrinho, uma futura adepta de ralis; “Ainda só tem 2 anos e meio… mas quem sabe”, brincou.
Já António e Mariana Namora, casados há quase 50 anos, têm memórias de quando o evento se realizava na Serra da Boa Viagem, nas décadas de 70 e 80 do século passado: “Era fenomenal, andávamos de um lado para o outro, até de noite!”, relembrou Mariana com nostalgia, considerando que o Rali de Portugal era “muito melhor” nesses tempos.
Sem destacarem um piloto preferido, atualmente gostam é da competição: “Gostamos é de ver a Hyundai e a Toyota sempre ao despique!”, realçaram animadamente.
Fernanda Santiago, residente na cidade litoral do distrito de Coimbra, apontou constrangimentos a quem vive e trabalha na Figueira da Foz, face à realização da superespecial urbana.
“Não gosto destas vedações, obrigam a que tenha de fazer quilómetros para conseguir ir trabalhar” lamentou, embora admitindo que se sente “satisfeita por ver a Figueira a ser publicitada”.
Para os estudantes madeirenses João Jesus, Joana Nunes e António Camacho, foi a curiosidade que os atraiu para o rali: “Não seguimos frequentemente, mas gostamos e, como na nossa ilha há o Rali Vinho da Madeira, decidimos vir ver”, explicou António.
Apaixonado por ralis desde os 10 anos – hoje tem 53 -, Luís Abrantes, embora já seja “visita habitual” à superespecial da Figueira da Foz, admitiu que “não é a mesma coisa” do que ver os carros em piso de terra
Natural de Mortágua, defendeu que as especiais em piso de terra daquele concelho da região de Coimbra e distrito de Viseu “já são obrigatórias”, com zonas espetaculares e facilidades de acesso para os espetadores.
Faltava hora e meia para o início competitivo do rali e Luís Abrantes, fã da modalidade, aproveitava para cumprir, no centro da Figueira da Foz, outro hábito “de há muitos anos”: cortar o cabelo na Barbearia Moderna, onde a sua família é cliente há quatro gerações, a mais antiga da cidade, onde, tesoura e navalha em punho, Joaquim Martinho, o proprietário, está desde 1968, há 57 anos.
“Daqui é só descer a rua e já estou na superespecial”, notou Luís Abrantes.