Bala de borracha pode matar. Recorde outros casos de adeptos de futebol que perderam a visão após serem atingidos pela PSP

Um adepto do Sporting perdeu a visão num dos olhos e teve de ser operado de urgência após ser atingido com uma bala de borracha disparada pela Polícia de Segurança Pública durante os festejos do bicampeonato do Sporting, na noite de sábado, na zona do Marquês de Pombal.

O adepto, identificado pelo jornal Record como Bernardo Topa, de 28 anos, natural do Porto, é comissário de bordo na TAP.

Diz o mesmo jornal que a vítima estava na zona do Saldanha com amigos quando, antes da passagem do autocarro do Sporting em direção ao local da festa, foi apanhado numa intervenção da PSP que estaria a tentar dispersar alguns adeptos que deflagravam e atiravam engenhos pirotécnicos. A PSP respondeu com disparos de balas de borracha, tendo uma dessas balas perdidas, disparada de shotgun, acertado no olho esquerdo do adepto leonino.

Bernardo Topa, que foi nadador-salvador durante 10 anos, está internado numa unidade hospital de Lisboa a recuperar da cirurgia, mas já apresentou queixa contra a PSP e o Estado português, por negligência.

De acordo com relatos da imprensa portuguesa, outros adeptos ficaram feridos pelos disparos de bala de borracha. Um foi atingido na zona lombar e outro no baixo ventre, tendo necessitado de assistência hospitalar no Santa Maria. Outros três adeptos tiveram feridos ligeiros devido a pirotecnia.

PSP destaca operação “tranquila, positiva e serena”. Varandas diz que adeptos não são criminosos

No balanço final dos festejos do bicampeonato do Sporting de norte a sul do país, a PSP garante que a operação “decorreu de forma globalmente tranquila, positiva e serena”.

Em comunicado, o organismo detalha que o incidente mais grave envolveu a intervenção da Unidade Especial de Polícia da PSP, devido ao “arremesso de artigos de pirotecnia (baterias de fogo de artifício) na direção dos polícias, tendo havido necessidade de utilização de meios coercivos por parte da PSP (incluindo o emprego de arma antimotim com recurso a bagos de borracha)”. No entanto, não detalha onde decorreu este incidente.

Ontem, aquando da receção do Sporting na Câmara de Lisboa, o presidente do clube, Frederico Varandas, saiu em defesa dos adeptos, com alguns reparos às forças de segurança pela sua forma de atuação.

“Deixem que me vos diga, sou militar e respeito e muito todas as ordens de todas as forças de seguranças, mas não tratem os adeptos do futebol como criminosos. Não prejudiquem algo que faz parte da nossa cultura, o futebol faz parte da nossa cultura, não prejudiquem centenas de milhares de adeptos que têm paixão apenas pelo seu clube, apenas por uma minoria que não se sabe comportar”, disse o líder leonino, durante o seu discurso.

Outros casos

2021: adepto do Sporting perde visão num olho após tiro de bala de borracha

Esta não foi a primeira vez que um adepto de futebol ficou gravemente ferido após ser atingido com balas de borracha pela PSP. Em 2021, aquando dos festejos do título do Sporting, que pôs fim a uma ‘seca’ de 19 anos sem vencer o campeonato, Ricardo Santos, de 24 anos, também foi atingido por uma bala de borracha no olho direito, tendo perdido a visão nesse olho.

Foi transportado de urgência para o Hospital de Santa Maria na madrugada de 12 de maio, mas nada havia a fazer. O adepto do Sporting disse, na altura, que iria apresentar uma queixa-crime contra a Polícia de Segurança Pública por abuso de autoridade. O adepto leonino, que era estafeta na Margem Sul, deixou de poder trabalhar.

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2014: João Pedro Adrião perde visão após ser agredido pela PSP. Deixou a profissão

Também em 2014 um adepto do Boavista perdeu a visão num dos olhos após ser agredido pela PSP a 03 de outubro de 2014, aquando do jogo da 7.ª jornada da I Liga entre o Vitória de Guimarães e o Boavista.

João Pedro Adrião contou que se deslocou a Guimarães para apoiar o Boavista e que, após sair do autocarro, esperou um pouco pelo irmão, tendo sido de imediato interpelado por um polícia que lhe disse que não podia parar ali e que, “ato contínuo”, o empurrou, o projetou ao chão e o agrediu com murros, joelhadas e cotoveladas.

Contou ainda que entretanto se juntaram mais dois polícias, que o agrediram também à bastonada. Outros agentes terão formado um círculo à sua volta, impedindo que lhe fosse prestado socorro. Disse que, fruto das agressões que sofreu na cara, ficou sem um olho e que, por causa do que aconteceu, não mais conseguiu exercer a sua profissão de advogado.

Uma versão corroborada pelo irmão da vítima, que também estava no local e que hoje também foi ouvido em tribunal. “Chegou uma altura em que vi o meu irmão estava morto”, referiu.

Os 11 efetivos do Corpo de Intervenção da PSP foram acusados de ofensa à integridade física grave qualificada. No tribunal, optaram por não prestar declarações sobre os factos, ao contrário do adepto agredido, que entretanto não conseguiu identificar nenhum dos agentes envolvidos na agressão.

Um juiz de instrução criminal do Tribunal de Guimarães ditou o arquivamento dos autos, por considerar que não era possível identificar os agressores.

Bala de borracha pode matar

Os disparos de balas de borracha pelas forças de segurança costumam acontecer em situações limite, quando a Polícia tenta dispersar as pessoas. No entanto, é algo que se tem verificado em muitos casos em recintos desportivos, principalmente nos estádios ou em redor dos mesmos.

A verdade é uma bala de borracha pode provocar a morte. Foi isso que aconteceu em abril de 2012, aquando de um jogo entre o Athletic Bilbao e o Schalke04 da Alemanha, para a Liga Europa.

A polícia foi chamada a intervir na rua Maria Dia de Haro de Bilbau, zona habitual das celebrações das vitórias do Athletic de Bilbau, que tinha acabado de eliminar o conjunto alemão e marcado encontro com o Sporting nas meias-finais. Durante a intervenção, a Ertzaintza (força policial basca) disparou balas de borracha.

Um dos disparos acertou na cabeça de Inigo Cabaças, provocando-lhe fratura do crânio e uma hemorragia cerebral pela qual entrou em coma, de acordo com a autópsia. Depois de ter permanecido três dias em estado muito grave e em coma, ligado a uma máquina de ventilação mecânica, o jovem adepto do clube basco morreu.

*Com Lusa

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