Jogo de Liga dos Campeões em Turim, no Allianz Stadium preparava-se para mais uma noite de futebol, emoção e algum dramatismo. A Champions é aquela competição onde o hino soa a promessa e sofrimento ao mesmo tempo. A Juventus, velha senhora, mas numa forma melhor do que algumas de vinte, continua vaidosa e recebia o Sporting, uma equipa que ultimamente tem dado mais lições de bola do que explicações.
Em terras lusitanas, o adepto sportinguista acreditava. “Se jogarmos como contra o Tondela, limpamos isto”. Em Turim, o ‘tiffosi’ italiano respondia: “Chi è questo Sporting?”
No entanto, o futebol, com a sua mania de não seguir lógica, tratou de equilibrar as contas.
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Rui Borges, com o cabelo lambidinho por um gato e a tática na cabeça, prometia atitude e coragem. Do outro lado, Spalletti, que tem um nome que parece uma marca de esparguete, exibia o sorriso cínico de quem já viu demasiados 1-0 ao estilo italiano.
Um confronto de estilos: de um lado o entusiasmo jovem de Lisboa contra a sabedoria cínica de quem defende uma vantagem até num simples jogo de Uno.
O jogo começou e, surpresa das surpresas, o Sporting não se encolheu. Pressão alta, posse segura e uma Juventus a parecer mais cansada do que charmosa. Os italianos trocavam passes com a mesma vontade com que se faz fila no banco, o Sporting, por sua vez, jogava com personalidade, como quem vai a casa de um primo rico e decide abrir o frigorífico sem pedir licença.
Logo aos 12 minutos, Maxi Araújo abre o ativo! Abola correu como se a defesa da Juve fosse um campo de treino com o remate final a ir direitinho às redes à guarda de Di Gregório, que tem mais nome de monge do século XI do que de guarda redes de equipa grande.
Pouco tempo depois, nova jogada rápida, toque de classe e finalização à ponta de lança, mas a bola caprichosamente bate na trave e trava o segundo golo leonino.
Se os adeptos leoninos achavam que iam conseguir a primeira vitória por terras Italianas, bem, enganaram-se.
Os jogadores da Juventus devem ter cheirado uns sais de Amónia. É que a partir daí a zebra começou a caça ao leão!
Nos últimos 15 minutos da primeira parte, os italianos começaram a acordar. Um remate perigoso aqui, uma entrada dura ali — o pacote ‘Modo Série A’ ativado.
O empate surge aos 34 minutos por Vlahovic com a defesa leonina apanhada na pausa para ‘capuccino’ da noite.
Os sportinguistas, neste momento, olhavam para o relógio e pensavam no que aquela noite poderia ter sido, mas se calhar não iria ser. Uma espécie de carnaval estragado pela chuva. Quem nunca teve?
Recomeçou o jogo e, com ele, a habitual metamorfose italiana: a Juventus voltou mais cínica, mais fria e, claro, mais perigosa. O Sporting manteve a coragem, mas o desgaste começou a pesar. A defesa leonina parecia uma equipa de futsal com claustrofobia, sempre apertada, sempre a sair à pressa.
Spalletti não estava satisfeito com o empate, relembrar que a Juventus ainda não venceu nesta edição da Liga dos Campeões, o que é o equivalente à Angelina Jolie ir de férias e não voltar com um puto adoptado, e mandou subir linhas. Borges lançou meninos e esperança. Entrou Geny com o entusiasmo de quem acredita em milagres, e Morita tentou equilibrar o jogo.
Os últimos minutos foram uma mistura de nervos e ‘quase’. A Juventus queria ganhar, o Sporting aceitava o empate, e o árbitro parecia mais interessado em controlar mais o trânsito do que o jogo.
Neste final só deu Rui Silva, o internacional português defendia tudo e mais alguma coisa.
No final, 1-1. Para uns, resultado honroso, para outros, sabor agridoce. O Sporting mostrou futebol, personalidade e qualidade, mas também a velha maldição de não matar o jogo quando tem a faca e o queijo na mão.
Rui Borges saiu de Turim com ar pensativo, tipo aluno que fez tudo certo e mesmo assim tirou 14. Spalletti, esse, saiu resignado, empatou em casa, mas conseguiu não perder, o que para um italiano dá sempre moral.
O resultado mantém o Sporting bem vivo na luta por um lugar no playoff, mas também lembra que, na Champions, a experiência pesa. Os leões tentaram rugir alto, mas no final o eco foi italiano.
No balanço final, foi uma noite europeia à moda antiga, até porque a Juventus jogou de preto e branco. Houve emoção, qualidade e aquele sabor ligeiramente amargo de quem merecia mais. O Sporting não venceu, mas também não se vergou e isso, para quem viu o futebol português ser gozado em Itália durante anos, já é quase um pequeno milagre.
A Juventus, por sua vez, fez o que faz desde o século passado, não joga bonito, nem sempre ganha, mas sobrevive.
No fim do dia, o empate vale um ponto, mas vale também respeito. O Sporting voltou a mostrar que pertence a este palco.
Hoje no Estádio da Luz temos um Benfica – Leverkusen, que promete muita emoção e dedos de Mourinho.
Viva o futebol.
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