Competitividade e incerteza pautaram as diferentes lutas classificativas na edição 2024/25 da I Liga de futebol, avalia o treinador Álvaro Pacheco, vendo as distâncias estruturais entre os clubes diluídas pelo nível dos técnicos nacionais.
“Cada ano tem a sua história e este foi diferente dos outros todos pela competitividade e suspense que existiu do início ao fim. Foi um campeonato com muitas incidências e com situações que, se calhar, nunca tinham acontecido. Essa competitividade, alternância e suspense levaram a que a prova fosse diferente e competitiva à sua medida”, analisou à agência Lusa o ex-técnico de Vizela, Estoril e Vitória de Guimarães no escalão principal.
O Sporting conquistou o 21.º título, ao contabilizar 82 pontos, contra 80 do ‘vice’ Benfica, numa luta sentenciada apenas na última jornada, que permitiu aos ‘leões’ festejarem em edições seguidas pela primeira vez desde 1953/54, época do único ‘tetra’ da sua história.
“Foi merecido, já que os campeões têm sempre o seu mérito. O Sporting teve uma época difícil, de altos e baixos, com um início muito bom e, depois, uma queda, que o obrigou a mudar de técnico e gerou incerteza e todo o tipo de problemas. Contudo, foi capaz de se reorganizar, de superar todas essas dificuldades e de ser melhor e mais forte”, salientou.
Se os ‘leões’ acederam diretamente à Liga dos Campeões, na qual as ‘águias’ terão de passar duas pré-eliminatórias para entrar na fase de liga, o FC Porto rumou de forma automática à Liga Europa, ao terminar na terceira posição, com 71 pontos, contra 66 do Sporting de Braga, quarto e presente nas fases preliminares da segunda prova da UEFA.
A quinta e última vaga europeia foi assegurada pelo Santa Clara, que descolou do Vitória de Guimarães na última ronda e fechou a sua melhor prestação na prova com 57 pontos, três face aos minhotos, voltando às pré-eliminatórias da Liga Conferência, após 2021/22.
“Os técnicos portugueses estão claramente na vanguarda e conseguiram, através da sua capacidade de improviso e de resiliência nas dificuldades, fomentar um campeonato tão competitivo e atrativo até ao final da temporada, com tantas lutas e decisões. Penso que, claramente, esse fosso [de nível] que existe no futebol nacional consegue ser reduzido através da competência dos treinadores, da competitividade das respetivas equipas e da luta que dão semanalmente para contrariar o favoritismo dos clubes mais apetrechados, com maior capacidade financeira e com melhores jogadores”, sublinhou Álvaro Pacheco.
O treinador está confiante numa “boa figura” do Santa Clara na Liga Conferência, na qual o Vitória de Guimarães se tornou esta temporada o primeiro clube português a passar as pré-eliminatórias, perdendo nos ‘oitavos’ face aos espanhóis do Betis, finalistas da prova.
“O futebol nacional tem de dar condições às equipas ditas não grandes para que possam competir fora de portas. O Vitória fez uma campanha fantástica, que nos orgulha, e quem ganha é o futebol nacional, que tem de trabalhar nesse sentido”, notou, sobre um trajeto com recordes de nove vitórias seguidas e 13 jogos sem perder na história lusa na UEFA.
Apesar desse contributo vimaranense, Portugal falhou a subida ao sexto lugar do ranking europeu, do qual foi destronado pelos Países Baixos em 2022/23, com Álvaro Pacheco a frisar a importância da futura centralização dos direitos audiovisuais das partidas da I e II ligas para o progresso interno da modalidade e a sua consolidação a nível internacional.
“Consegue-se criar muito bons jogadores, mas, infelizmente, devido à pouca capacidade financeira de vários clubes, esses são os que têm de sair precocemente, já que é preciso receita. Tem de haver uma maneira, sobretudo nos direitos televisivos, que possa ajudar todos os clubes a ter maior capacidade financeira para poderem segurar e também atrair atletas de qualidade para o nosso campeonato, tal como se vê em outros países”, pediu.
Envolvido na melhor temporada de sempre do Vitória de Guimarães, com 63 pontos em 2023/24, o técnico, de 53 anos, antevê uma prova mais valorizada com outra exigência interna, facilitando a comercialização do produto e acentuando os desafios dos ‘grandes’.
“Olhamos para Inglaterra e, semana após semana, há jogos muito difíceis e competitivos, em que o resultado é uma incerteza. Temos de ser capazes de criar essas condições em Portugal. As equipas que correm pelo título teriam maior capacidade e ritmo, algo que as ajudava a estarem preparadas para quando chegassem os embates europeus”, concluiu.