O Benfica necessita de corrigir uma política dispendiosa de contratações, que gerou investimentos de quase 500 milhões de euros nas últimas seis temporadas, mas só rendeu um título na I Liga, reconhece o ex-futebolista Jorge Ribeiro.
“São dois anos [sucessivos] sem ganhar nada no campeonato, que é o objetivo principal. Tem de se fazer uma reflexão na direção, até porque acho que o Benfica contrata bons jogadores, mas por valores astronómicos. Falamos de muitos milhões de euros e o clube não tem conseguido dar títulos aos adeptos”, disse à agência Lusa o ex-defesa esquerdo internacional português, que jogou nas ‘águias’ em duas fases (1999-2002 e 2008-2011).
O Benfica, recordista de cetros (38), repetiu o segundo lugar da época anterior na edição 2024/25 da I Liga, ao somar 80 pontos, a dois do bicampeão Sporting, falhando o acesso direto à Liga dos Campeões, na qual terá de suplantar duas pré-eliminatórias no início de 2025/26, depois de alinhar no verão no alargado Mundial de clubes, nos Estados Unidos.
“Não queria individualizar muito, mas, quando um clube contrata por bom dinheiro, esses jogadores têm de dar [rendimento], principalmente nos momentos decisivos. Vou dar um exemplo: Orkun Kökçü custou 30 milhões [25 fixos e cinco em variáveis], mas, na minha opinião, não apareceu nos momentos decisivos com o Sporting e na Liga dos Campeões. Um jogador que custa aquele dinheiro tem de fazer a diferença nos momentos decisivos em clubes grandes para arrebatar troféus, mas isso não aconteceu”, atirou Jorge Ribeiro.
Apesar de terem vencido a Taça da Liga face ao Sporting (7-6 nos penáltis, após 1-1 nos 90 minutos) – seu opositor na final da Taça de Portugal, no domingo -, e da chegada aos ‘oitavos’ da Liga dos Campeões, na qual foram afastados pelo recém-campeão espanhol FC Barcelona, as ‘águias’ falharam a reconquista do cetro perdido na temporada anterior.
Campeão em 2022/23, mas sob ininterrupta contestação em 2023/24, o treinador alemão Roger Schmidt foi demitido a seguir à igualdade na visita ao Moreirense (1-1), da quarta ronda, quando o Benfica já tinha perdido cinco pontos em 12 possíveis, abrindo caminho ao regresso de Bruno Lage, vencedor em 2018/19, no 37.º e penúltimo cetro ‘encarnado’.
“O Benfica precisava de uma mudança na altura e foi buscar um técnico que conhecia o clube e a sua estrutura. O Bruno Lage fez uma boa campanha, com bons resultados na ‘Champions’, e levou a discussão do campeonato até à última. Tem de ganhar a Taça de Portugal, senão é uma época menos conseguida”, observou, sobre o reencontro com os ‘verdes e brancos’ no Estádio Nacional, em Oeiras, 29 anos depois da final do very light.
No sábado, após o empate na casa do Sporting de Braga (1-1), na 34.ª e última ronda, o presidente do Benfica assegurou a continuidade do treinador, decisão apoiada por Jorge Ribeiro, expectante quanto às intenções de Rui Costa nas eleições do clube, em outubro.
“Sei que o Benfica é um clube exigente. Passei por lá e sei perfeitamente como é aquela casa. Exige-se sempre o título e, quando os adeptos veem que um treinador não ganha, cobram. Essa cobrança está a ser feita agora ao Bruno Lage. O Benfica já não ganha há dois anos e tem de haver consequências, mas não é mandar um treinador embora agora para vir outro e voltar outra vez à estaca zero”, reiterou o vencedor de uma Taça da Liga.
Satisfeito pelos desempenhos do lateral esquerdo espanhol Álvaro Carreras e do defesa central argentino e capitão Nicolás Otamendi, de 37 anos, “uma peça fundamental e um monstro de competitividade com a idade que tem”, Jorge Ribeiro aplaude a evolução do ponta de lança grego Vangelis Pavlidis, autor de 29 golos e 11 assistências, em 52 jogos.
“Demorou a aparecer, mas também teve a ver com a adaptação a um país e uma cultura diferentes e a um clube exigente. Com o tempo, viu-se que é mais do que um avançado, sendo quase completo e um dos melhores da I Liga”, analisou, sobre um dos segundos melhores marcadores da competição, com os mesmos 19 tentos de Samu, do FC Porto.
Pavlidis foi a contratação mais cara do Benfica em 2024/25, num exercício em que João Neves, Marcos Leonardo e David Neres representaram as principais vendas, permitindo aos ‘encarnados’ suplantar os 900 milhões de euros em receita nas últimas seis épocas.
De saída está o extremo argentino Ángel Di Maria, cuja segunda etapa na Luz só rendeu, para já, uma Taça da Liga e uma Supertaça Cândido de Oliveira desde 2023/24, após a conquista de um campeonato e de mais duas Taças da Liga, entre 2007 e 2010.
“Foi sempre um jogador de alto nível. Antes das lesões, fez vários golos e assistências e estava bem. Esta época foi atípica e, com a idade, surgem pequenas lesões, que criam desconforto. Ele deixa um legado bom e a vida segue. Também está na hora, porque há jovens com qualidade a aparecer”, finalizou Jorge Ribeiro, ex-companheiro do argentino.