Um ‘choque térmico’ na forma de cubos de gelo para ‘arrefecer’ o pelotão na Volta a Portugal

O gelo tornou-se omnipresente na Volta a Portugal, com os ciclistas a combaterem as elevadas temperaturas com o recurso a sacos colocados na cervical, uma ‘moda’ que obriga as equipas a uma permanente corrida a esse precioso ‘bem’.

Desde que a 86.ª edição partiu da Maia, em 06 de agosto, o pelotão tem ‘destilado’ com temperaturas médias sempre superiores a 30 graus e até mais próxima dos 40, pelo que ‘adotou’ quase unanimemente uma solução engenhosa para se refrescar: uns sacos feitos de ‘meias’ e recheados de cubos de gelo, que os corredores colocam na cervical.

“É um pouco para reduzir a temperatura corporal, porque com as altas temperaturas que têm estado e com o esforço que eles vão a fazer, a temperatura corporal aumenta muito e vai piorar o rendimento”, explicou Joaquim Andrade à agência Lusa.

Segundo o diretor desportivo do Feirense-Beeceler, os ciclistas colocam os sacos de gelo na cervical por ser “o sítio mais prático e uma zona que arrefece muito mais rapidamente o corpo”, com José Azevedo, da Efapel, a acrescentar que a técnica de ‘choque térmico’ também resulta no pulso, mas a conceder que em corrida tal não é viável.

“O ano passado já usámos bastante e há dois anos também. Começa a ser mais habitual, porque também é mais prático. […] Curiosamente, no meu tempo, raramente usávamos gelo, mas íamos buscar bidons frescos ao carro e colocávamos um na zona onde eles colocam agora o gelo. Já era um alívio muito grande”, recordou Andrade, o recordista de participações na Volta a Portugal (21).

As temperaturas elevadas obrigam a que o gelo tenha de ser permanentemente reposto, com José Azevedo a detalhar que a Efapel tem arcas nos carros com bidões com gelo e outras que “baixam a menos 20 graus”.

“E aí vão aquelas meias com o gelo, para se manter, porque as que vão nos bidões vão derretendo. Mas não é suficiente. Com este calor, muitas vezes os auxiliares, durante o percurso ou nos pontos de abastecimento, compram mais gelo, fazem essas meias e depois voltamos a passar, porque há etapas em que não chegam”, contou o diretor desportivo da formação laranja.

Na etapa da Senhora da Graça, por exemplo, o gelo foi derretendo e o staff da Efapel, que também usa banheiras de crioterapia no pós-etapa, não conseguiu comprar mais. “Nas bombas de gasolina ninguém tinha gelo. Isso é um problema”, admitiu Azevedo.

Também a Feirense-Beeceler distribui as ‘meias’ de gelo “mais ou menos de 40 a 40 quilómetros”, com os carros espalhados no percurso a reporem os cubos que ‘arrefecem’ os ciclistas.

“Normalmente, agosto é sempre um mês quente, mas este ano têm sido temperaturas muito elevadas mesmo, e diariamente. No caso de um dia ou outro, é uma coisa, mas agora diariamente vai-se acumulando o esforço e dificulta muito a prestação dos ciclistas”, analisa o responsável da equipa.

A par do gelo, de acordo com Andrade, o conjunto de Santa Maria da Feira deve gastar “à volta de uns 300, 400 bidons por dia, para os sete ciclistas”.

“Muitas das vezes os bidons que eles levam não chegam a beber: às vezes é para refrescar, outras vezes bebem uma parte, mas depois aquilo aquece e eles têm que vir repor atrás. É mesmo um esforço constante, porque tanto a água, como os sais minerais que eles levam, se tiverem uma temperatura muito elevada, acaba por não funcionar da mesma forma”, notou.

O número de bidons distribuídos pela Efapel é substancialmente menor, com Azevedo a estimar que os seus ciclistas usem “cerca de 180”, parte deles para refrescar.

“Há Voltas em que cá há dias quentes, mas esta tem sido… desde que começou, não houve um dia mais fresco”, desabafou à Lusa.

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