José Mourinho diz estar num dos “melhores clubes do mundo”, fala no passado e faz promessas para o futuro. Saiba o que disse o novo treinador do Benfica

Ao fim de 25 anos, José Mourinho está de regresso ao Benfica para ser o sucessor de Bruno Lage no comando técnico dos encarnados. O técnico setubalense foi apresentado esta quinta-feira e já dirigiu as primeiras palavras como novo treinador, deixando algumas garantias em relação aos objetivos que têm até ao final da temporada.

Mourinho falou sobre as diferenças que sente em si próprio quando comparado à primeira passagem no clube e revelou de que forma é que irá bloquear os sentimentos, até em relação ao período pré-eleitoral. Também deu a garantia de que o contrato que assinou com as águias foi elaborado de uma forma muito ética e a pensar no contexto do clube.

O novo técnico falou na vontade de vencer o próximo jogo frente ao AVS, no próximo sábado, e comentou algumas mudanças que têm de existir na equipa, nomeadamente no que diz respeito à atitude.

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Leia as declarações completas

Como é que o Benfica vai ganhar?: “Na cabeça de alguma pessoas tenho dois currículos, um que durou um certo período e outro que na cabeça de alguma pessoas é uma fase menos feliz da minha carreira. A minha infelicidade é que nos últimos 5 anos joguei duas finais europeias. Mas eu não sou importante, venho numa fase em que como pessoa sou mais altruista, menos egocêntrico, na alegria que posso dar aos outros. Eu não sou importante, os adeptos do Benfica é que são importantes. Estou aqui para servir, para fazer o Benfica ganhar. O ADN do Benfica é ganhar. Revejo-me muito na cultura, no perfil, naquilo que é o povo que ama o futebol. O povo quer ganhar mas quer sentir parte do esforço, da mentalidade, do sacrifício. Nós que somos privilegiados, mas durante 90 minutos representamos aquela gente. Tenho um respeito enorme pela minha profissão mas tenho um respeito enorme pelo meu clube. Ontem era acompanhado por algumas motas das TVS, o benfiquismo saltava à estrada, arrepia, faz pele de galinha. 25 anos ao mais alto nível não me tornaram imune a tudo isto. Não vamos ganhar sempre, mas não podemos perder como perdemos há dois dias. Não é Benfica. Benfica é o que jogou contra o Fenerbahçe 30 minutos, é quem esteve em Istambul com um jogador a menos conseguiu levar um resultado positivo. É o Benfica em que me revejo. Tenho jogo daqui a 48 horas, vou encontrar jogadores em recuperação, tenho de meter o meu dedo mas muito ao de leve, não posso radicalizar. Tem de se começar por este perfil ao nível emocional, entrar em campo a saber que somos muito milhões e pensar neles. Do ponto de vista tático vou meter o dedo mas de forma muito controlada. Muita coisa foi bem feita pelo meu antecessor”.

Angústia pela forma como saiu do Benfica há 25 anos: “Tento bloquear esses sentimentos e é importante fazê-lo. São duas fases diferentes, não só da minha carreira mas também da minha vida como homem. Foi o início da minha carreira e agora estou num momento de grande maturidade. Se esperam que acabe daqui a 4 ou 5 anos estão enganados, eu é que vou decidir. Eu queria vir ontem à noite, estar a trabalhar, reunir com os analistas, com os assistentes… Só vou acabar quando sentir que alguma coisa mudou. Hoje sinto que o que mudou é que tenho mais fome do que tinha há 25 anos. Se calhar hoje as coisas não teriam sido como foram há 25 anos. Hoje penso mais nos outros. Sou o último da fila, estou aqui para servir. Aquele momento era diferente em termos de maturidade. Estou super feliz de estar aqui, sinto-me mais vivo do que nunca. É pena que o jogo seja daqui a dois dias, mas ao mesmo tempo é bom, porque estou desejoso que aconteça. Se sinto que são todos os benfiquistas que estão felizes por eu estar aqui? Acho que não. Quem é magnânimo? Quem tem esse poder de ter toda a gente do seu lado? Ninguém. Mas sinto a responsabilidade de fazer coisas boas, que a nível nacional é ganhar títulos”.

Condições do contrato: “É um contrato com uma grande ética por trás. Só assinei, não o elaborei. Só assino o que me agrada, mas tem da parte do clube um respeito enorme pelas eleições, pelos sócios que vão concorrer à presidência. Sensibilizou-me o contrato ser direcionado por essa ética. No dia seguinte às eleições eu serei o treinador do Benfica, mas a presença desse lado ético dá uma facilidade que noutras condições não existiria. Quero trabalhar no Benfica mas quero que as pessoas estejam no mesmo barco do que eu. Quero cumprir os dois anos e contrato, com êxito, que o clube depois queira renovar comigo”.

Em comparação com o Mourinho de há 25 anos, o que resta no Mourinho de hoje: “O que não mudou é que estou doido para ganhar o próximo jogo. Há 25 anos era a mesma coisa. Quando joguei contra o Benfica também estava. Essa é a minha essência. Mas há mais maturidade, é muito difícil acontecer alguma coisa com a qual não me tivesse já deparado. Venho para um clube com uma estrutura humana e profissional de altíssimo nível. As pessoas que trago comigo são a minha gente. É fantástico para mim”.

Tática a três ou quatro centrais?: “No meu anterior clube as coisas eram fáceis, queria jogar a 4 mas o clube contratou 5 jogadores depois de eu ter saído. Enquanto lá estava era impossível. Mas adapto-me àquilo que existe. Tens de te adaptar ao que existe. Eu elogiei o plantel do Benfica e voltarei a fazê-lo. Se perguntar se joguei com as palavras, sim, mas achei que o Benfica tinha feito um ótimo trabalho no mercado, era uma equipa que gostei muito. Não sou um grande exemplo de fair-play, mas estou melhor, mas não foi com facilidade que me saiu os parabéns ao Benfica e ao Bruno. O Benfica tem bons jogadores, tinha um bom treinador, mas a nossa vida é assim. É um luto que nós treinadores temos de fazer quando o nosso trabalho é interrompido e o Bruno deve estar a sofrer, como eu sofri, mas desejo-lhe as maiores felicidades”.

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Promessa de que Benfica será campeão. Contexto do Benfica: “As promessas valem o que valem, na altura, no FC Porto prometi e podia não ter cumprido. Penso verdadeiramente que o Benfica tem todas as condições para ganhar o campeonato. Tem dois pontos perdidos, seguramente iremos perder mais, espero que não muitos, mas partimos da estaca zero. Benfica tem potencial no balneário para ser campeão, mas não me escondo. Promessa não, mas a convicção que podemos e devemos fazer. O contexto para mim é treinar um dos maiores clubes do mundo, a minha carreira foi rica, treinei em diferentes países, tive uma opção errada, mas sem arrependimentos, mas a consciência do que fizemos bem ou mal existe. Fiz mal em ir para o Fenerbahçe, mas dei tudo até ao último dia. Treinar ao Benfica é regressar ao meu nível”.

Bloquear ruído da campanha eleitoral. O que diria ao Mourinho de há 25 anos: “Diria ‘fizeste tudo bem’. Obviamente fiz muita borrada, mas as coisas correram-me bem. Em relação ao ruído mediático sou muito forte a proteger-me disso. Não tenho tempo para me preocupar com coisas exteriores. Aquele que de vós me elogiar ou criticar não vai mudar a minha vida. Habituei-me a bloquear essas coisas. Não preciso de briefings diários, apenas os pontos-chave”.

Próxima receção ao Dragão: “Espero uma receção diferente. A que tive [há uma semana] foi normal porque sou um treinador histórico no clube, não ia lá há 20 anos. Regressar como treinador do grande rival, obviamente será diferente. Mas o respeito não vai mudar. Volto como treinador do grande rival, não há muita volta a dar, mas não tenho qualquer tipo de problema. Em relação ao jogo, temos de morder muito. O Benfica mordeu pouco nos últimos jogos”

Sentimento pré-eleitoral: “Não penso nisso, de todo. Penso na missão, na responsabilidade, em servir, em dar mais do que em receber. Estou nesse momento. Não penso que tenho uma dívida com o Benfica por ter sido cá treinador há 25 anos, porque também podia pensar o oposto. Estou focado numa missão e a minha preocupação é que preciso de ir treinar”.

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