Cada vez mais se diz que os clubes devem ser geridos como empresas. Neste momento, a “empresa” está em crise: perdeu valor desportivo, reputacional e emocional.
Os “acionistas” (sócios) exigem mudanças. Os clientes (adeptos) estão desiludidos. Os concorrentes esfregam as mãos.
O que se espera de um líder nestas circunstâncias?
Que ponha o lugar à disposição? Que assuma os erros e saia? Ou que lute até ao fim para salvar aquilo que construiu?
Foi isso que Rui Costa fez: à beira de eleições, com o balneário desalinhado e os adeptos em ebulição, despediu Lage e contratou José Mourinho.
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Uma jogada arriscada, arrojada, audaciosa, sim. Mas também uma jogada de liderança.
Esta foi uma decisão de gestão.
Mourinho como estratégia
Se transportarmos este cenário para o mundo empresarial, o que o gestor fez foi anunciar a entrada de um nome de peso — um gestor com fama mundial, carisma, resultados no currículo e capacidade de atrair a atenção dos mercados.
É isso que Mourinho representa. Não é apenas um treinador: é um movimento estratégico de reposicionamento. Um statement.
Curto prazo: muda o foco mediático.
Médio prazo: eleva a exigência interna.
Longo prazo: veremos.
O que aprendemos com esta jogada?
A liderança é feita de risco. Rui Costa podia ter decidido sair, mas decidiu agir — como tantos líderes empresariais fazem quando a empresa precisa de um abanão.
Grandes nomes têm peso estratégico. Contratar Mourinho é como contratar um C-level global para salvar uma marca: tem impacto, gera buzz, atrai investidores (adeptos, sponsors, media).
Não resolve tudo, mas mexe com tudo.
Podemos dizer que já não é o Mourinho de antigamente, mas o futebol também não é o mesmo. Continua a ser um líder, um especialista em tirar o melhor dos jogadores, dos adeptos e dos sócios.
Tal como numa reestruturação empresarial, esta jogada precisa de resultados. Rápidos. A margem de erro é mínima. Se não resultar, o CEO cai com o plano.
Neste momento, a procura não é pelo futebol-espetáculo, mas pelo futebol eficiente.
Liderança é agir
O futebol é um desporto de emoções, e isso tolda o lado racional. Mas é preciso sublinhar: liderar não é agradar. É agir.
É fácil ser presidente quando se ganha. Mas é nos momentos difíceis que os bons líderes se revelam — quando tudo está a cair, e ainda assim se decide lutar.
Rui Costa foi um lutador incansável em campo e agora escolheu não recuar. Escolheu arriscar.
E, goste-se ou não, isso é o que se espera de um verdadeiro líder: agir, mesmo quando sabe que tudo está contra ele.
No papel, é uma jogada empresarial.
No coração, é puro futebol.
Talvez por isso custe tanto a alguns adeptos aceitar esta decisão — porque querem justiça, sangue, mudanças.
Mas, se formos racionais e virmos isto como um ato de gestão, o que Rui Costa fez foi exatamente aquilo que qualquer CEO faria:
Não fugiu. Decidiu.