Opinião de Paulo Veiga. ‘Rui Costa: Liderança em Mares Revoltos’

Cada vez mais se diz que os clubes devem ser geridos como empresas. Neste momento, a “empresa” está em crise: perdeu valor desportivo, reputacional e emocional.

Os “acionistas” (sócios) exigem mudanças. Os clientes (adeptos) estão desiludidos. Os concorrentes esfregam as mãos.

O que se espera de um líder nestas circunstâncias?

Que ponha o lugar à disposição? Que assuma os erros e saia? Ou que lute até ao fim para salvar aquilo que construiu?

Foi isso que Rui Costa fez: à beira de eleições, com o balneário desalinhado e os adeptos em ebulição, despediu Lage e contratou José Mourinho.

– Tudo sobre o desporto nacional e internacional em sportinforma.sapo.pt –

Uma jogada arriscada, arrojada, audaciosa, sim. Mas também uma jogada de liderança.

Esta foi uma decisão de gestão.

Mourinho como estratégia

Se transportarmos este cenário para o mundo empresarial, o que o gestor fez foi anunciar a entrada de um nome de peso — um gestor com fama mundial, carisma, resultados no currículo e capacidade de atrair a atenção dos mercados.

É isso que Mourinho representa. Não é apenas um treinador: é um movimento estratégico de reposicionamento. Um statement.

Curto prazo: muda o foco mediático.

Médio prazo: eleva a exigência interna.

Longo prazo: veremos.

O que aprendemos com esta jogada?

A liderança é feita de risco. Rui Costa podia ter decidido sair, mas decidiu agir — como tantos líderes empresariais fazem quando a empresa precisa de um abanão.

Grandes nomes têm peso estratégico. Contratar Mourinho é como contratar um C-level global para salvar uma marca: tem impacto, gera buzz, atrai investidores (adeptos, sponsors, media).

Não resolve tudo, mas mexe com tudo.

Podemos dizer que já não é o Mourinho de antigamente, mas o futebol também não é o mesmo. Continua a ser um líder, um especialista em tirar o melhor dos jogadores, dos adeptos e dos sócios.

Tal como numa reestruturação empresarial, esta jogada precisa de resultados. Rápidos. A margem de erro é mínima. Se não resultar, o CEO cai com o plano.

Neste momento, a procura não é pelo futebol-espetáculo, mas pelo futebol eficiente.

Liderança é agir

O futebol é um desporto de emoções, e isso tolda o lado racional. Mas é preciso sublinhar: liderar não é agradar. É agir.

É fácil ser presidente quando se ganha. Mas é nos momentos difíceis que os bons líderes se revelam — quando tudo está a cair, e ainda assim se decide lutar.

Rui Costa foi um lutador incansável em campo e agora escolheu não recuar. Escolheu arriscar.
E, goste-se ou não, isso é o que se espera de um verdadeiro líder: agir, mesmo quando sabe que tudo está contra ele.

No papel, é uma jogada empresarial.
No coração, é puro futebol.

Talvez por isso custe tanto a alguns adeptos aceitar esta decisão — porque querem justiça, sangue, mudanças.

Mas, se formos racionais e virmos isto como um ato de gestão, o que Rui Costa fez foi exatamente aquilo que qualquer CEO faria:

Não fugiu. Decidiu.

PARTILHAR EM:

Twitter
Telegram
WhatsApp

LEIA MAIS NOTÍCIAS